Junho| nº 04/2020
Junho| nº 04/2020
O país aguarda com ansiedade a retomada da economia e com ela acreditamos que a mudança de alguns conceitos, como uma preocupação maior com o meio ambiente e o uso de energias renováveis. Este é o tema da entrevista com a Dra. Elizabeth Duarte Pereira. De forma muito direta, ela comenta essa oportunidade que a humanidade tem de pensar de forma sustentável, e como fazer o melhor uso da energia solar térmica.
Vamos mostrar também um exemplo de empreendimento que investiu no uso de equipamentos solares térmicos para aquecimento de água em um Resort. A experiência mostra a versatilidade do sistema, que cada vez mais ganha espaço em diferentes tipos de utilização.
Reservamos também alguns trechos da pesquisa feita pela Solar Heat Worldwide Report, que contou com a colaboração da pesquisa feita pela ABRASOL e que indica crescimento no uso desta energia para aquecimento de água residencial.
Encerrando a edição uma matéria sobre a importância de participar da sua Entidade de classe. Nosso Vice-Presidente de Desenvolvimento Associativo, José Lourenço Flores Cassuci, fala um pouco sobre associativismo e convoca o setor a se unir em torno da ABRASOL.
Aproveitando o tema do associativismo, aproveito para reforçar que cabe a nós empresários a missão de trabalhar para difundir cada vez mais o uso dos aquecedores solares. Precisamos chegar aos governantes e também ao consumidor final. Para que esse trabalho ganhe corpo e tenha efeito, será cada vez mais importante contar com a união de todos. Vamos em frente
Oscar de Mattos
Presidente
A energia solar está diretamente ligada à sustentabilidade. Logo, as tecnologias que utilizam a energia solar tendem a ganhar um destaque maior na nova realidade mundial pós-pandemia. Essa é a opinião da Profa. Dra. Elizabeth Marques Duarte Pereira, física e consultora da Agência de Cooperação Brasil-Alemanha (GIZ), e da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha (AHK) e do Inmetro.
Ela diz que embora seja difícil fazer previsões sobre como a economia vai se comportar pós-pandemia, será preciso repensar o país de forma sustentável, com energia limpa e renovável, como é o caso da energia solar. A professora ressalta, no entanto, que para tirar o melhor proveito dessa energia é importante saber como utilizá-la.
Um exemplo é o uso da energia solar térmica, ideal para o aquecimento de água. “Não adianta utilizar, por exemplo, a energia fotovoltaica e acionar o chuveiro, a perda de eficiência será grande e o custo elevado.” Ou seja, para aquecimento de água o sistema ideal é o solar térmico. “Gosto de chamar a atenção de que a energia solar é, talvez, dentre todas as energias renováveis, a única que pode ser feita por uma decisão do consumidor. A energia eólica, por exemplo, é uma decisão de governo, a solar não. Depende exclusivamente do morador, do empreendedor. É uma decisão nossa.”
Ela lembra que as pessoas ficaram impressionadas como em poucos meses o meio ambiente está se recuperando com a redução da emissão de poluentes. “Se queremos um mundo melhor, mais sustentável, a energia solar é uma decisão nossa. É muito importante mostrar isso para o empreendedor, para o projetista e para o consumidor final.”
Outro ponto importante, destaca, é pensar as necessidades dentro de casa, que são basicamente, o uso de água quente e de energia elétrica. Ela explica que se a água quente será utilizada para o banho, não há necessidade de ter energia elétrica para aquecer a água. “Vou ter água quente diretamente. As pessoas não estão vendo muito isso. O quilowatt economizado com o aquecimento solar térmico é mais barato do que se eu tiver usando geração fotovoltaica para gerar água quente”.
Elizabeth afirma que estudos mostram que o Aquecedor Solar de Água faz com que o payback, o retorno do investimento caia, em média de 8 a 12 meses, dependendo da tarifa e nível de consumo do imóvel. “O kWh do aquecimento solar é muito mais barato. As Pessoas precisam entender que existem duas tecnologias, mas que a energia sola térmica para aquecimento de água, deveria ser a primeira opção.”
Àqueles que estão em regiões mais frias não devem se preocupar em utilizar o aquecimento solar. A professora lembra que não há problema que a engenharia nacional não possa resolver. Segundo ela, nas regiões onde a temperatura fica abaixo de zero grau em determinadas épocas do ano há o risco de congelamento, mas existem soluções de engenharia que resolvem plenamente o problema, portanto, não há restrições. “Temos um inverno ensolarado, uma situação privilegiada. Vamos ter que repensar tudo, então devemos buscar soluções energeticamente viáveis, ambientalmente corretas e socialmente justas.”
O Ministério da Saúde respondeu ao Ofício da ABRASOL e incluiu as empresas comercializadoras e prestadoras de serviços de aquecedores solares de água, entre as atividades consideradas essenciais, e que portanto, tem autorização para exercer a atividade durante a pandemia. De acordo com o documento, as revendas estão contidas no parágrafo 2º do Artigo 3º do Decreto 10.329, de 20 de março, que definiu o rol de atividades consideradas essenciais.
O Ministério alerta que há que se respeitar decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de que estados e municípios têm competência para estabelecer políticas de Saúde, incluindo os serviços essenciais no âmbito de seus territórios.
Sustentabilidade. Essa é a palavra que vem norteando muitas ações nos últimos anos e que deve ser a tendência do pós-pandemia. Mas a prova de que muitas empresas perceberam esse caminho muito antes de toda essa crise é o lançamento do Olímpia Park Resort, na cidade de Olímpia, interior de São Paulo.
Em operação desde maio de 2018 a obra foi concluída e o Hotel está pronto para ser utilizada com “carga total”. Inicialmente foram inauguradas duas torres com 228 apartamentos em cada. Em setembro de 2019 mais uma torre foi entregue, com 228 apartamentos e em novembro de 2019 a obra foi finalizada. No total, 912 apartamentos atendidos com sistema de Aquecimento solar de Água, especificamente para chuveiro, cozinha, refeitório dos funcionários e vestiários.
Segundo Flávio Cláudio, gerente de Manutenção da Enjoy – Hotéis e Resorts, esse é o primeiro empreendimento do Grupo e da operação da Enjoy e teve a sustentabilidade como base. “A ideia era aproveitar esse bem natural que temos e é muito evidente nessa região, por ser muito quente e na busca de uma economia com base nos estudos apresentados quando do projeto.”
No entanto , a utilização de energia solar térmica para aquecimento de água já ocupa lugar de destaque em outros projetos em estudo e implementação, explica. Ele diz que a primeira vantagem do sistema é a gratuidade da fonte de energia, que é o sol. “Estamos localizados em uma região tropical que recebe uma quantidade absurda de radiação solar, praticamente o ano todo e que é capaz de gerar mais energia do que podemos consumir.”
Graças a isso, o sistema passa a ser bastante vantajoso e confiável, argumenta, pois diferentemente de outras fontes geradoras, a solar depende exclusivamente da luz do sol, uma fonte renovável e inesgotável. “Além dessa segurança, a sustentabilidade inerente à geração limpa de energia, manutenção simples e quase inexistente, somente testes de funcionamento e limpeza periódica das placas solares e rede hidráulica com seus componentes.”
Flávio Cláudio explica que ainda não foi possível avaliar a economia gerada, uma vez que o complexo foi entregue faseado e a conclusão aconteceu praticamente durante o início da pandemia. “Estamos cientes e confiantes nessa economia com base nos estudos do projeto. Pós-pandemia teremos esse estudo confirmado e com um ano de operação passando pelas quatro estações do ano, a confirmação dessa economia.”
Graças ao uso do sistema de aquecimento solar de água, foram eliminados todos os chuveiros elétricos das unidades. “Isso aumentaria em muito a carga instalada e refletiria diretamente na infraestrutura das instalações elétricas e no consumo de energia”, finaliza.
A ABRASOL participou ativamente do relatório Solar Heat Worldwide Report, publicado no início de junho. As empresas do nosso setor, colaboraram enviando dados para a equipe do Programa de Colaboração em Tecnologia de Aquecimento Solar e Resfriamento, da Agência Internacional de Energia (IEA SHC).
O documento fornece uma visão geral e mais abrangente do mercado solar térmico global, com dados detalhados do mercado em 68 países, indicando um crescimento no uso desta energia para aquecimento urbano.
Os números indicam que a crescente demanda por aplicações industriais e agrícolas impulsionou o mercado, durante o período em que China e Europa central estiveram sob pressão devido às tecnologias concorrentes. Já as vendas residenciais aumentaram significativamente na África do Sul, Grécia, Chipre e Brasil.
Os sistemas que fornecem água quente e aquecimento em edifícios residenciais e públicos, bem como hotéis e hospitais e edifícios públicos, representam cerca de 60% dos sistemas recém-adicionados. Um ponto importante a ser observado é que o crescimento significativo do mercado ocorreu principalmente nos países com vendas de mercado dominadas por sistemas de pequena escala (em particular sistemas de termossifão). O relatório mostra que os programas nacionais de habitação social vinculados à instalação de sistemas solares de aquecimento de água têm um impacto muito bem-sucedido no desenvolvimento do mercado.
Fazer da ABRASOL um caminho para viabilizar os negócios do setor. É dessa forma que pensa o Vice-presidente de Desenvolvimento Associativo, José Lourenço Flores Cassuci. Para tanto, explica que é preciso ter uma entidade forte e com ampla representatividade. “Quanto mais empresas participarem mais representatividade teremos e mais força perante os órgãos governamentais, que são os que determinam o caminho que vamos seguir.”
José Lourenço reforça que ninguém consegue nada sozinho e destaca várias conquistas do setor, como a isenção de IPI, de ICMS a lei do estado de São Paulo que permitiu um regime especial para compra de matéria-prima para fabricar aquecedores solares. “Só conseguimos isso graças ao trabalho em associação, empresas individuais seriam apenas um CNPJ perdido correndo atrás e não conseguiriam atingir os objetivos.”
Apesar das conquistas passadas e das atuais, o vice-presidente da ABRASOL afirma que a maior dificuldade é fazer as pessoas participarem. Ele lembra que também resistiu a entrar na Associação. “Achava que era perda de tempo, coisa para empresa grande. Comecei a perceber que aprovaram Portarias, regras e ou eu acatava ou reclamava. Resolvi participar e percebi que participando tenho voz ativa, consigo expor minhas ideias.”
Ele diz que seu desejo é que todas as empresas, fabricantes, fornecedores, revendedores, projetistas, participem. Quanto mais empresas, maior será a força da ABRASOL diante dos órgãos públicos. Apenas durante o período da pandemia, a Entidade encaminhou pleitos importantes para o setor, como a reabertura das Revendas de Aquecedores de Energia Solar, a liberação de créditos do ICMS, dentre outros.
Para que esse trabalho continue e obtenha sucesso a participação dos associados é fundamental. Somente assim, acredita, será possível levantar a real demanda do mercado. “Com a presença de toda cadeia teremos uma noção do que eles esperam e precisam, para que possamos conduzir os pleitos a quem de direito.”
Por: José Lourenço Flores Cassuci
Vice-Presidente de Desenvolvimento Associativo