Boletim | Setembro | nº 07/2020

Setembro | nº 07/2020

Editorial

Na última edição falamos da questão da gestão. E neste momento a orientação continua a mesma. É preciso ficar atento uma vez que os preços dos insumos continuam em alta e o risco de escassez ainda é grande. Para que vocês possam acompanhar melhor os números, apresentamos a variação dos metais mais importantes ao longo desse ano.

Como sempre, defendemos em nossas matérias a importância do aquecedor solar de água e a necessidade de tê-lo integrado às políticas públicas de habitação, como é o caso do Programa Casa Verde e Amarela, do governo Federal. Para tanto, elaboramos um documento que destaca os benefícios do uso dessa energia, como forma de reforçar o que diz a Medida Provisória.

O papel da energia solar, como fonte renovável é o destaque da entrevista com o presidente da ESCO Energias, Alexandre Sedlacek Moana, que alerta que os primeiros m² de qualquer telhado devem ser do aquecedor solar de água, inclusive, no setor industrial, que se configura em um importante campo para expansão da tecnologia.

Um exemplo prático disso é dado pelo engenheiro Lucio Mesquita, que projetou o sistema de aquecedor solar de água em uma cervejaria. Segundo ele, são muitos os processos e etapas dentro de uma indústria que podem utilizar o aquecedor solar. 

Para encerrar, uma entrevista com nosso vice-presidente, Rainer Antonio Campioni, defendendo o reconhecimento do aquecedor solar de água pelo seu aspecto ambiental, pelo uso de energia limpa que contribui para a preservação do meio ambiente.

“Vamos em frente!”

Oscar de Mattos
Presidente

OS PRIMEIROS M² DE QUALQUER TELHADO DEVEM SER DO AQUECEDOR SOLAR DE ÁGUA

A aposta no aquecimento solar de água não é algo novo. No entanto, tem tudo para figurar entre as principais soluções renováveis de eficiência energética, uma vez que é o único a permitir o armazenamento de energia. Quem faz a observação é o presidente da ESCO Energias, Alexandre Sedlacek Moana.

Ele argumenta que a tecnologia é de fabricação 100% nacional e a única maneira de ter a energia no horário em que ela realmente importa. O sistema interligado nacional (SIN), em determinados períodos, carece de potência elétrica, logo, existem horários em que a energia sobra. É aí que entra a energia solar térmica com a vantagem da acumulação em forma de água quente, explica.

Outro fator peculiar ao Brasil é o uso do chuveiro elétrico, que não existe em outros países, ou seja, a economia com o uso do aquecedor solar de água é expressivo. “O aproveitamento de um centímetro quadrado de um coletor solar em relação a outras tecnologias é quatro vezes maior. O que eu tenho é um espaço restrito no telhado das residências, onde a parte relativa ao consumo de água quente, ou água sanitária, falando tecnicamente, é muitas vezes mais vantajosa.”

Em função de algumas leis e regulações atuais que permitem armazenar a energia de graça no SIN, o aquecimento solar térmico ainda não evidencia suas vantagens de forma tão clara. “Mas é uma tendência de mudança imediata que está acontecendo. Acredito que o aquecedor solar não só como uma posição tecnológica muito boa, mas a partir do momento do reajuste das regulações, conseguirá mostrar quem realmente tem a vantagem de forma mais expressiva. Este será o momento da transparência, no qual as pessoas vão reconhecer a real importância do aquecimento solar de água, tecnologia testada e aprovada no Brasil há mais de 40 anos e que vem se modernizando ao longo desse período.”

Alexandre Sedlacek Moana - Presidente da ESCO Energias

Alexandre Moana cita como exemplo um telhado típico de uma casa. “Se temos 10 ou 20 metros quadrados disponíveis, os primeiros metros quadrados inseridos para o aquecedor solar para o chuveiro são a opção mais inteligente do que simplesmente colocar 20 metros com outra tecnologia, já que tenho um espaço melhor aproveitado com capacidade quatro vezes maior de assimilação energética e ainda com acumulação que regulariza o sistema elétrico nacional. Talvez não seja tanto uma mudança de legislação, mas um trabalho de informação técnica eficiente, que mostre a importância da tecnologia para o consumidor.”

 Nos anos 70 e 80, 85% da energia brasileira era proveniente de matriz hidráulica, limpa e renovável, em que foi amplamente incentivado o uso da energia elétrica, inclusive para o aquecimento de água, conforme dito anteriormente.  No decorrer do tempo, a capacidade de produzir energia a partir de hidrelétricas foi se reduzindo,  porque há um limite pra se alterar o curso dos rios, armazenagens em lagos, bem como todos os impactos sociais e ambientais provocados pela construção de novas usinas hidrelétricas, a exemplo do que ocorreu em Belo Monte. O país começou a precisar de termelétricas para enfrentar a variação de chuvas, a redução de oportunidades advindas de outras fontes e, principalmente a necessidade de modular a potência.

Em função de tudo isso, o aquecedor solar de água permite que a modulação do sistema nacional seja mais eficiente. “Ele continua sendo importante porque atinge o setor residencial de forma intensa, sem contar os benefícios no setor industrial, principalmente para o pré-aquecimento de processos, informação que não é muito disseminada. Talvez seja a hora de fazer uma força tarefa sobre as possibilidades dos sistemas térmicos industriais receberem pré-aquecimento através do aquecedor solar de água, especialmente em nichos específicos de atuação, onde teríamos ganhos expressivos em eficiência energética.”

O PAPEL DO AQUECEDOR SOLAR NA INDÚSTRIA

Além de uma tecnologia que permite a utilização de uma matriz sustentável, o aquecimento solar de água tem como característica importante, a diversidade. Sua utilização pode ser feita em diversos projetos, principalmente na área industrial, como destaca o engenheiro Mecânico e PhD em Engenharia Mecânica, Lucio Mesquita.

Ele foi o engenheiro responsável por uma obra, feita há algum tempo em uma cervejaria, atendida por um associado da ABRASOL e ressalta que existe um potencial gigantesco no aquecedor solar de água para aplicação em processos industriais, em vestiários e no processo produtivo.

No caso da cervejaria foi possível alocar a tecnologia nos processos de cozimento e envase das cervejas, além de fornecer água quente para a esterilização das tubulações industriais e toda assepsia dos sistemas da cervejaria.

Para tanto foram adotados coletores solares com superfície seletiva, uma cobertura especial com maior capacidade de absorção solar, podendo atingir cerca de 80º. Foram utilizados para produção de 9 mil litros de água quente, por dia, 320 metros quadrados de área coletora solar, o que permitiu à empresa reduzir o consumo de mais de 80 toneladas de blocos de resíduos de madeira destinados à alimentação das caldeiras.

O sistema, um dos pioneiros na indústria, demonstra a diversidade de possibilidades de aplicações do aquecedor solar de água, e abre o leque para novos projetos, principalmente diante da necessidade de redução de custos por parte das indústrias.

Mesquita explica que são muitos os processos e etapas que podem usar o calor solar. “A indústria usa calor geralmente em banhos, como na indústria metalúrgica, em secagem, como na alimentícia e higienização. Qualquer coisa que você esteja vendo agora passou por algum processo que envolve calor. A madeira passa por secagem, os plásticos são aquecidos e resfriados na moldagem, o vidro é fundido com calor.”

Especificamente no caso da cervejaria, ele conta que pesou na decisão também o aspecto ambiental, que é sempre um marketing positivo. Mas o ponto mais positivo foi o fato de toda tecnologia ter sido nacional, além de propiciar uma grande economia nos custos.

SETOR É IMPACTADO COM AUMENTO DE INSUMOS

Na última edição publicamos uma matéria falando da alta na demanda e preços de insumos, gerados pela redução na produção durante a pandemia. Com a retomada gradual da economia, muito setores, inclusive o de aquecedor solar estão sentindo o impacto dos aumentos nos custos dos produtos.

No caso dos associados da ABRASOL a preocupação está no aumento do cobre, alumínio e aço inoxidável, utilizados na fabricação de componentes que integram o sistema.

Segundo a LME (London Metal Exchange), centro mundial para o comércio de metais industriais, de abril a setembro de 2020, o cobre teve elevação de 38,5%, subindo de U$/t 4.772,00 para U$/t 6.610,00. Enquanto o alumínio elevou 18,7%, indo de U$/t 1.463,50 para U$/t 1.737,00, no mesmo período. No caso do níquel (aço inoxidável) o aumento foi de 28,2% indo de U$/t 11220,00 para U$/t 14385,00. Devemos ainda considerar que estes aumentos foram em dólar, que neste mesmo período passou de R$5,1981 para R$5,6401, um aumento de 8,5%.

 

Cotação do Cobre entre abril e setembro/2020

Cotação do Níquel (aço inoxidável) entre abril e setembro/2020

Cotação do Alumínio entre abril e setembro/2020

ABRASOL APOIA O PROGRAMA CASA VERDE E AMARELA

A ABRASOL encaminhou ofício ao Ministério do Desenvolvimento Regional, parabenizando o governo pelo lançamento do Programa Casa Verde e Amarela, previsto na Medida Provisória nº 996, de 25 de agosto de 2020. No documento, a diretoria da Associação apresenta algumas colaborações reforçando a previsão que consta da MP, da utilização dos aquecedores solares de água em todas as unidades habitacionais a serem construídas ou reformadas por meio do Programa.

Dentre os pontos destacados pela ABRASOL está o fato do aquecedor solar de água ser uma tecnologia que está há mais de quatro décadas no país e que gera mais de 40 mil empregos, com enorme potencial de crescimento. Os sistemas utilizam matéria-prima totalmente nacional agregando economia para os consumidores através de uma fonte de energia renovável que protege o meio ambiente e promove a sustentabilidade.

Confira alguns benefícios do sistema de energia solar térmica destacados no documento da ABRASOL:

  • Promove a diversificação da matriz energética brasileira;
  • Uso Racional da energia elétrica com a retirada de aproximadamente 6% de sobrecarga elétrica no horário de ponta do Sistema Elétrico Brasileiro (SEB), entre às 17 h e as 20h, na parcela correspondente aos chuveiros elétricos;
  • Operação completamente desconectada da rede elétrica, não gerando custos adicionais de medição e compensação de excedentes e nem de investimento em novas linhas de transmissão e distribuição.

O Programa Casa Verde e Amarela é uma reformulação do Minha Casa, Minha Vida e pretende atender 1,6 milhão de famílias de baixa renda com o financiamento habitacional até 2024, um incremento de 350 mil residências em relação ao que se conseguiria atender com os parâmetros do programa atual, segundo promete o Palácio do Planalto.

O público-alvo do programa será dividido em três grupos, atendendo famílias residentes nas cidades e com renda mensal de até R$ 7 mil e famílias residentes em áreas rurais e com renda anual de até R$ 84 mil. Subsídios do governo serão concedidos nas operações de financiamento habitacional para quem vive nas cidades e tem renda até R$ 4 mil e, nas zonas rurais, para as famílias com renda anual de até R$ 48 mil.

ENERGIA RENOVÁVEL QUE PROTEGE O MEIO AMBIENTE

“O aquecimento solar de água precisa ser reconhecido pelo seu aspecto ambiental”.  A afirmação é do vice-presidente de Tecnologia e Meio Ambiente da ABRASOL, Rainer Antonio Campioni. Para ele, é importante mostrar aos usuários os benefícios da utilização de uma energia limpa, que contribui para a preservação do meio ambiente. “Ás vezes ficamos muito preocupados com a economia, mas preservar o meio ambiente é pensar no futuro que estamos deixando para as próximas gerações.”

Com base nessa proposta, ele explica que a ABRASOL vem trabalhando para buscar novas parcerias, tanto no Brasil, quanto no exterior, e novos investimentos, inclusive em patrocínios para pesquisas. Para ele é fundamental mostrar, principalmente para o público leigo, a diferença entre os diversos sistemas de energias renováveis. O aquecedor solar de água tem propriedades muito específicas que se bem utilizadas, promovem uma harmonia perfeita com outras tecnologias.

O vice-presidente da ABRASOL destaca as ações feitas pela Associação no sentido de promover o aquecimento solar térmico, de forma que ele possa fazer parte das políticas públicas. “Acabamos de ver o lançamento do Programa Casa Verde e Amarela, que tem o aquecimento solar de água como uma das vertentes, com a previsão de inclusão nas habitações que sofrerão melhorias (400 mil, até 2024) e mais 1,6 milhões para novas habitações.”

Como forma de contribuir com o Programa, a ABRASOL encaminhou ofício ao governo Federal, reforçando as informações sobre o segmento, que possui uma tecnologia com mais de 40 anos de mercado, se destacando como fonte de energia renovável que protege o meio ambiente e promove a sustentabilidade.

Por: Rainer Antonio Campioni

Vice-Presidente de Tecnologia e Meio Ambiente